76% dos moradores de favela querem ter seu próprio negócio

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A maioria dos 17,1 milhões de moradores de favelas do Brasil tem, teve ou quer ter seus próprios negócios. Os dados fazem parte de uma pesquisa Data Favela que foi divulgada nesta sexta-feira (15) na primeira edição da Expo Favela.

De acordo com a pesquisa, 76% dos moradores de favela se enquadram nessa descrição e 50% deles se consideram empreendedores. Além disso, quatro em cada dez moradores da comunidade (41%) têm seu próprio negócio. “Isso mostra uma grande oportunidade”, disse Renato Meirelles, fundador do Data Favela, em entrevista à Agência Brasil.

“Historicamente, as favelas foram estigmatizadas com asfalto e falta de políticas públicas. Mas vemos que os moradores das favelas, em vez de lamentar, estão agindo. Em outras palavras, eles assumem a responsabilidade por suas vidas”, acrescentou.

Informalidade no próprio negócio

No entanto, ter um negócio não é fácil para quem mora na comunidade. Por exemplo, o problema apresentado no estudo é que apenas 37% dos empreendedores autônomos possuem CNPJ.

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“O Estado não está nas favelas. Então, para pegar o CNPJ, você precisa sair da favela. Por mais maravilhoso que seja o modelo Simples, você terá que lidar com vários desafios de documentos. Quando você abre um negócio, a primeira coisa que você vê não é uma oportunidade de crédito, mas um fiscal na sua porta”, disse Meirelles.

A principal dificuldade que quem vai abrir o próprio negócio na comunidade relata é, sem dúvida, a falta de investimento.

“O estudo mostrou que há falta de financiamento, falta de dinheiro, falta de crédito. Os bancos hoje não oferecem crédito de acordo com as necessidades da favela. Eles também não têm o conhecimento de como expandir seus negócios com tecnologia, embora hoje nove em cada dez moradores de favela tenham acesso à Internet”, disse Meirelles.

aprenda a tomar

“Uma coisa é querer ter um negócio, outra é ter um negócio, e outra bem diferente é saber administrar o seu negócio. Achamos que a favela precisa de uma escola de negócios”, disse Celso Ataide, fundador da Central Única das Favelas (Cufa). Ele também é o CEO da Favela Holding e criador da Expo Favela.

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“O que falta na prática é conhecimento. Minha mãe morreu sendo empreendedora, sem saber que era empreendedora. A gente nem usa essa linguagem empreendedora nas favelas. Dizemos que viramos, fazemos nosso salto, fazemos nossa corrida. Falamos em código. E agora também precisamos falar não só na favela, mas também no asfalto. E nesse sentido, precisamos mudar essa narrativa e desenvolver novas formas de expressão para que o asfalto e as favelas as reconheçam, para passar de um momento para o outro”, acrescentou.

Segundo o pesquisador e fundador do Data Favela, as comunidades brasileiras oferecem muitas oportunidades de negócios, principalmente no setor de economia criativa.

“Você tem um grande potencial na economia criativa, que designers, são as agências de comunicação, são os influenciadores digitais que começam a vender para o mundo de dentro da favela. Você tem aquele cara que faz bonés ou camisetas que começaram a ser vendidos fora das favelas durante a pandemia. Há aqueles confeiteiros que se registraram em iFoode que conseguiram transformar seu pequeno negócio em um negócio, bufê da favela”, citou.

Expo Favela

Para atrair investidores para esses negócios que estão surgindo nas favelas do Brasil, Celso Ataide criou a Expo Favela. “Asphalt sempre me convida para ir ao evento dele. Mas agora convido Asfalt para o nosso evento. Esse é o momento em que não fazemos o evento de favela em favela. Mas fazer um evento para a favela, inclusive com asfalto”, disse.

Participando da Expo Favela como expositora, artesã e ativista social, Marisa Rufino, de 48 anos, viu na feira uma grande oportunidade. Representando um grupo de 20 pessoas, ela saiu de Arash (Mingvin) para apresentar as lindas toalhas e outros produtos que ela e seu grupo produzem.

“Saímos de Araxá para nos conhecermos, para conhecer pequenos negócios como o nosso. Agora eu represento mais de 20 pessoas. E essa experiência que vou ter vai valer muito para cada um deles ao trabalhar com seu produto”, disse ela em entrevista à Agência Brasil.

“Esta é a primeira exposição em que participamos. Temos um bom produto que precisa ser visto melhor. Essa é a salvação do artesanato, o artesanal também deve estar em alta. E acho que a feira dá esse impulso para nós empreendedores. Meu pequeno serviço pode se tornar grande a partir do momento em que trabalho com a comunidade”, disse ele.

Negócio Próprio da Comunidade

Valsineide Santana, 37 anos, da comunidade quilombola Fazenda Cangula em Alagoinhas, interior da Bahia, veio à Expo Favela apresentar o projeto Farmácia Verde.

“Agora 10 mulheres estão participando deste projeto. O objetivo é salvar a cultura negra. Quando surgiu em 2017, a tarefa era salvar a cultura com a ajuda de plantas medicinais. Hoje produzimos sabonete medicinal que tem finalidade medicinal”, explicou.

“Nosso principal objetivo [ao participar do evento] isso é para mostrar que no sertão da Bahia, na comunidade quilombola, existe um grupo de mulheres que trabalham com plantas que utilizam os recursos naturais da comunidade para criar um produto que beneficia várias pessoas. Queremos mostrar nosso potencial e atrair investidores para alcançar outros objetivos, como construir nosso laboratório”, disse.

O laboratório, explicou Walsineade, é o que a sociedade mais precisa no momento. Adequado para trabalhar com uma linha de preparações naturais.

“Mas hoje não vendemos esse produto porque sabemos que existe toda essa burocracia brasileira, principalmente com os pequenos negócios. E hoje precisamos de um laboratório e de um químico ou farmacêutico para assinar esses medicamentos para que possamos vendê-los”, disse.

Além de artesanato e sabonetes medicinais, a Expo Favela contará com muitos outros produtos, evento que começou hoje (15) e vai até domingo. O evento também contribui mostra, palestras, exposições e rodadas de negócios. Informações adicionais podem ser obtidas em local na rede Internet.